terça-feira, 1 de maio de 2007

Isso é uma homenagem à você...(que sabe que falo de você...)


A noite desce sobre a cidade

A noite desce sobre a cidade. Faz calor. A lua mergulha no espelho negro dos asfaltos, acende-se no fundo do rio.
Procuro-te nos rostos que passam. Sei que todos eles abrigam a tua morte. Nenhum deles evoca o sorriso que te pertenceu.
Qual deles, ao ser tocado, se metamorfoseará em vidro? E se quebrará nas minhas mãos.
Qual deles leva teu nome escondido nos lábios?
Qual deles oferecerá ou venderá o corpo?
Qual deles, como tu, acordará um dia esquecido de que está vivo?
A noite esvazia-se. Nenhuma música enche a tua morte.
Caminho desamparado, embora saiba que uma aragem te acordará em mim e, o álcool ajudando, a terra ser-te-á leve...
Qual deles venderá o corpo?
Qual deles ousará pousar a mão na minha lepra?
Caminho desamparado.
A noite abre-se, imensa, e o tempo passa sobre o rosto como um fogo que tudo apaga.
Os meus passos vão no sentido contrário ao teu sossego.
Os dias avançam sem paixão. Os dias recuam e não encontro ninguém.



in O Anjo Mudo, Al Berto

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